Nesta postagem segue uma atividade de revisão para AP1 da disciplina Língua Portuguesa Instrumental:
O texto a
seguir serve de base para as questões da 1 à 6.
Confie em Deus, mas tranque o seu carro…
Mike Tyson segue na mídia: andou sendo entrevistado
pela Oprah e fazendo um mea-culpa por uma vida inteira de desvios de
comportamento. Isso me fez lembrar de quando ele foi acusado de estupro pela
ex-miss Desiree Washington, em 1991. A moça havia entrado no quarto com ele, de
madrugada e, ao que consta, desistiu de levar adiante a brincadeira.
Qualquer pessoa tem o direito de desistir do ato
sexual na hora H e o parceiro tem o dever de respeitar a decisão, por mais fulo
da vida que fique, mas deixar Mike Tyson fulo não é algo que uma pessoa de
juízo arrisque. Na época, a escritora Camille Paglia disse que Tyson errou,
logicamente, mas que a moça era uma idiota.
E justificou sua opinião dando o seguinte exemplo: se
você estaciona seu carro numa rua escura e deixa a chave na ignição, não
significa que ele possa ser roubado. Mas, se o for, você foi um panaca. Essa
história sempre me volta à cabeça quando começo a ouvir algum “ai de mim”, que
é o mantra das vítimas. Fico prestando atenção na história e, quase sempre,
descubro que o mártir deixou a chave na ignição.
São os casos de garotas que se deixam filmar nuas
pelo namorado e depois descobrem que viraram as musas do YouTube, garotos que
dirigem alcoolizados a 140 km/h e acordam no outro dia no hospital, ou artistas
que vivem dando barraco em público e depois se queixam por serem perseguidos
por paparazzi. Eles devem se perguntar, dramáticos: onde está Deus nessa hora,
que não me ajuda?
Está ajudando a encontrar sobreviventes de um tsunami
ou consolando quem tem um câncer em metástase, porque esses, sim, são vítimas
genuínas: mesmo deixando seus carros bem trancados, foram surpreendidos pelo
destino.
“Não há prêmio ou punição na vida, apenas
consequências.” Não sei quem escreveu isso, mas está coberto de razão. Sorte e
azar são responsáveis por uns 10% do nosso céu ou inferno, os 90% restantes são
efeitos das nossas atitudes.
Vale para o trabalho, para o amor, para o convívio em
família, para o dinheiro, para a saúde da mente e também do corpo. Reconheço
que os governos não ajudam, que certas leis atrapalham, que a burocracia atravanca,
que o cotidiano é cruel, e até as disfunções climáticas conspiram contra. Ainda
assim, avançamos (prêmio) ou retrocedemos (punição) por mérito ou bananice
nossos.
Então, tranque o carro numa rua escura e também
dentro da sua garagem, não entre no quarto de um neanderthal se você não
estiver bem certa do que deseja, não deixe uma vela acesa perto de uma janela
aberta, pense duas vezes antes de mandar seu chefe para um lugar que você não
gostaria de ir, não tenha em casa Doritos, Coca-Cola e Ouro Branco, se estiver
planejando perder uns quilos e lembre-se do que sua bisavó dizia: regue as
plantas, regue suas relações, regue seu futuro, porque sem cuidar, nada
floresce.
E, por via das dúvidas, confie em Deus também, que
mal não faz.
Martha
Medeiros. Revista O Globo. Ano 5. no
276. 8/11/2009. p.24.
QUESTÃO 1
Na
reescritura abaixo, a transição do segundo para o terceiro parágrafo do texto
foi modificada: a porção em negrito foi deslocada do começo do terceiro para o
fim do segundo parágrafo.
(...) Na época, a escritora Camille Paglia disse que
Tyson errou, logicamente, mas que a moça era uma idiota. E justificou sua opinião dando o seguinte exemplo: se você estaciona
seu carro numa rua escura e deixa a chave na ignição, não significa que ele
possa ser roubado. Mas, se o for, você foi um panaca.
Essa história sempre me volta à cabeça quando começo
a ouvir algum “ai de mim”, que é o mantra das vítimas. Fico prestando atenção
na história e, quase sempre, descubro que o mártir deixou a chave na ignição.
Explique
por que essa outra possibilidade de transição de um parágrafo para o outro
seria adequada, levando em conta as relações de sentido entre as frases nesse
trecho.
QUESTÃO 2
Explique o que
significa, no contexto, “o mártir
deixou a chave na ignição” (3º parágrafo).
QUESTÃO 3
Avalie a
linguagem do texto como formal ou informal. Justifique sua resposta,
apresentando exemplos de duas palavras ou expressões empregadas no texto.
QUESTÃO 4
Nos dois
fragmentos abaixo, usa-se o sinal de pontuação “dois pontos”. Justifique o
emprego do sinal em cada caso.
a. Eles
devem se perguntar, dramáticos: onde está Deus nessa hora, que não me ajuda? (4º parágrafo)
b. (...)
porque esses, sim, são vítimas genuínas: mesmo deixando seus carros bem
trancados, foram surpreendidos pelo destino. (5º parágrafo)
QUESTÃO 5
Transcreva do
texto uma frase que exemplifique o emprego de vírgulas em enumeração.
QUESTÃO 6
Que outro
conectivo poderia substituir, mantendo o mesmo sentido, cada um dos conectivos
sublinhados abaixo?
a. Então,
tranque o carro numa rua escura (...)
(8º parágrafo)
b.
(...) confie em Deus também, que mal não
faz. (9º parágrafo)
QUESTÃO 7
Abaixo
encontra-se um fragmento de fala extraído do corpus do projeto NURC. Reescreva
o fragmento, passando-o para a modalidade escrita.
a
primeira vez... quando todos os meus filhos já estavam mais ou menos
crescidos... talvez assim na faixa de cinco... seis anos... foi a primeira vez
que nós tivemos coragem de sair do Rio... pra fazer uma estação de águas em
Lambari... então fomos eu... minha mãe... meu marido e as duas crianças... e o
primeiro dia que nós fomos ao parque... o menino principalmente... ele corria
sem direção
Considere o
fragmento de texto transcrito a seguir para responder às questões 8 e 9.
A percepção que temos do “outro”, do
estranho, do diferente não acontece de maneira abstrata nem desinteressada.
Todos nós enxergamos o mundo através da lentes, dos filtros que nos são
fornecidos pela nossa cultura e seus valores religiosos, familiares etc. O meio
em que crescemos e nos educamos nos põe em contato com determinados sistemas
padronizados de classificação das coisas e também das pessoas, que aparentam
ser inatos, “naturais”, mas que na verdade são aprendidos. Noções e categorias
relativas à distância, ao espaço, aos padrões estéticos, ao que é considerado
“bem” ou “mal”, entre outras, são fortemente marcadas pela nossa cultura.
Culturas diversas da nossa elaboram seus próprios sistemas de classificação,
que vão sofrendo modificações ao longo do tempo. Quem já não se deu conta de
que pessoas que vivem nos centros urbanos têm uma noção de distância bastante
diferente das que habitam as regiões rurais? No filme Dersú Uzalá, por exemplo, dirigido pelo cineasta japonês Akira
Kurosawa, o nativo Dersú percebe o ambiente natural em que vive de uma forma
inteiramente distinta do seu companheiro militar russo. Para Dersú, ao
contrário do que pensam os ocidentais, os animais também são “gente”. Até as
pedras são por ele consideradas seres animados. Certos povos africanos admiram
e desejam as mulheres robustas, enquanto outros valorizam as mulheres esbeltas.
Existem povos que proíbem o consumo de carne de porco, considerado por eles um
animal “imundo”, ao passo que outros ficam extremamente felizes quando podem
realizar grandes banquetes com a carne suína. No que diz respeito aos padrões
estéticos, também registramos enorme variabilidade de gostos: dificilmente
conseguiríamos apreciar o tipo de música produzida pelos índios da Amazônia ou
pelos povos orientais. Para os mais velhos, de gosto erudito ou conservador, o rock pesado seria digno de ser ouvido? (Adaptado de QUEIROZ, Renato. Não vi e não gostei – o fenômeno do preconceito. São Paulo,
Moderna: 1995. p.11-13.)
QUESTÃO 8
Imagine que a
primeira frase – A percepção que temos
do “outro”, do estranho, do diferente não acontece de maneira abstrata nem
desinteressada – fosse deslocada do início para o fim do fragmento.
Indique a palavra ou expressão que poderia introduzir essa frase, em
conformidade com seu sentido no contexto.
( a ) Portanto
( b ) Entretanto
( c ) Além
disso
( d ) Apesar
disso
( e ) Mesmo
assim
QUESTÃO 9
As
frases abaixo, extraídas do fragmento de texto, receberam uma vírgula a mais,
que não existe no texto original. Essa vírgula adicionada (em negrito)
representa um erro de pontuação em todas as alternativas a seguir, exceto em
uma. Indique a única alternativa em que o acréscimo dessa vírgula é aceitável.
( a ) O meio em que crescemos e nos educamos, nos põe
em contato com determinados sistemas padronizados de classificação das coisas e
também das pessoas (...)
( b ) (...) o nativo Dersú, percebe o
ambiente natural em que vive de uma forma inteiramente distinta do seu
companheiro militar russo.
( c ) Até as pedras, são por ele consideradas seres animados.
( d ) (...) ao passo que outros, ficam
extremamente felizes quando podem realizar grandes banquetes com a carne suína.
( e ) (...) dificilmente conseguiríamos apreciar
o tipo de música produzida pelos índios da Amazônia, ou pelos povos orientais.
Bom dia!
ResponderExcluirGostaria de saber se você oferece algum curso de português instrumental online.
Obrigada!